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O melhor (da música) de 2020

  • Foto do escritor: Inês Delgado
    Inês Delgado
  • 7 de jan. de 2021
  • 6 min de leitura


2020 foi um ano sem precedentes. O tempo passado em casa superou qualquer outro ano das nossas vidas, mas presenteou-nos, de certo modo, com tempo. Tirando tudo o que foi menos bom, 2020 foi um ano de muita música e, simultaneamente, de muito tempo para a ouvir. Numa época em que todas as pistas de dança se abriram em casa e os concertos ficaram agendados para mais tarde, a música comprovou ser a arte que jamais fará quarentena e, talvez mais do que nunca, soube bem viajar para diferentes realidades através dela. Especialmente em 2020. Um ano em que não é arriscado afirmar que no topo da lista do melhor, poderá estar a música.



Folklore, Taylor Swift


2020 foi um ano de reinvenção para Taylor Swift, que aproveitou a quarentena para criar o 8º álbum. Um lançamento surpresa com 16 complexas novas músicas e, decididamente, a maior afirmação artística da sua carreira. Sem basear o tema do álbum em volta de experiências pessoais, desta vez Swift criou uma narrativa imaginária típica das lendas folclóricas, em redor de um amor que se perdeu, que batizou o título do álbum. Comprovando, mais uma vez, que a sua maior arma é o storytelling.

Folklore, produzido na íntegra em casa da cantora, conta com a colaboração, na escrita e produção, de Aaron Dessner (The National), Jack Antonoff e Justin Vernon (Bon Iver), que nunca estiveram juntos durante o processo de criação do álbum.

Divergindo, alternativamente, entre o tom calmo e refletivo para o sentimental e doloroso, Taylor Swift saiu da zona de conforto e criou o álbum que sempre pretendeu – real e cru, onde a chave é, indubitavelmente, a escrita.

Destacamos ‘cardigan’, ‘exile’ ft. Justin Vernon e ‘my tears ricochet’. Dúvidas houvesse, após uma longa viagem entre o country e o pop, Taylor Swift pareceu encontrar o seu lugar no registo indie e, ainda, definir-se como das melhores compositoras da sua geração.


Punisher, Phoebe Bridgers

Punisher faz-nos sentir presos numa narrativa imensamente pessoal, perdidos em sentimentos que talvez conheçamos, mas parece que estamos a conhecer pela primeira vez. E, isto tudo, é escrito no melhor sentido possível.

À luz do título do álbum, Punisher, “alguém que fala sobre algo em excesso”, Bridgers deposita mil e um sentimentos que transbordam dos nossos auscultadores.

As letras são inteligentes, a história mergulha na desconstrução do medo de viver, entrando numa verdadeira catarse – uma experiência apocalíptica, quase sugerida pela capa do disco, que revemos ao ouvir a obra da cantora de 26 anos.

O álbum é de escuta obrigatória, mas destacamos ‘Chinese Satellite’, ‘I know the End’, ‘Saviour Complex’ e ‘ICU’.


Fetch the Bolt Cutters, Fiona Apple


Independente de quaisquer modas, e numa era acelerada como a que vivemos, Fiona Apple faz sempre música com um estilo próprio, com uma assinatura muito própria, deixando inegavelmente uma marca só sua que entra, confortavelmente, nos nossos ouvidos.

Seis anos depois do último álbum (“The Idler Wheel”), Fiona Apple volta a “atacar” com música que soa como nunca ouvimos e, mesmo assim, à qual ficamos agarrados desde o primeiro segundo. Um álbum que tem tanto de real como de metafórico, Apple reflete no caminho não-linear da vida.

Uma espiral de emoções e melodias que flutuam do enérgico para o nostálgico, de um momento para o outro. A cantora entrega-se de corpo e alma, mas o segundo é, especialmente, o motivo das letras reflexivas e pessoais que envolvem o ouvinte na narrativa. Por exemplo, na música que batiza o álbum, Apple reflete nos erros do passado e desdenha os que a controlavam, invocando Kate Bush, outra artista que se tornou famosa muito nova e rapidamente se desviou das rédeas impostas pelo pop.


The Slow Rush, Tame Impala


O ano começou com o psicadelismo característico da banda australiana. Num tom mais dreamy, quase pop, The Slow Rush é quase uma continuação mais serena do álbum prévio da banda de Kevin Parker (“Currents”).

No quarto álbum dos Tame Impala, Parker escreve sobre o eterno inimigo tempo. Numa mistura complexa de melodias fortes, o álbum soa a vários discos tocados em simultâneo, que encaixam perfeitamente. É mais uma obra-prima da banda.

Em The Slow Rush, por trás das diversas combinações de melodias e géneros musicais, encontra-se camuflada a sinceridade e intriga confessional da escrita de Kevin Parker. Reforçando, ainda mais, o tom perfecionista das suas produções.

Este disco é uma boa extensão da visão de Parker acerca da música pop, misturada com um olhar mais intimista e pessoal à música popular dos anos 70/80, numa nova fase dos Tame Impala.




Future Nostalgia, Dua Lipa


Desde o seu lançamento que o mais recente álbum da Dua Lipa tem sido conotado de “Perfeição Pop”, combinando todos os ingredientes que fazem um disco pop realmente bom. Com uma combinação criativa interessante, a cantora criou um álbum deslumbrante que aborda temas como sexo, desigualdade e empoderamento, pincelados com o brilho das discotecas.

Dua Lipa criou a sua própria Era de Disco em 2020, destacando-se dos demais álbuns pop lançados este ano. Este é um disco para se dançar do início ao fim, ironicamente lançado num ano em que a pista de dança foi sempre em casa e, sem sabermos, precisámos de músicas up-beat, como ‘Don’t start now’, ‘Levitating’ ou ‘Fever’ na mesma. Ou até mais.

Future Nostalgia é um disco que soa a vários, ancorado pelo pop dos anos 80 e 90, com um repertório que viaja pelos primeiros anos de Madonna ao som de Blondie, convergindo com Kylie Minogue, aproximando-se no romantismo quase cómico de Lily Allen. É num tom inovador, claramente futurista, que Dua Lipa proclama o empoderamento das mulheres, donas e escritoras das suas próprias narrativas.

O disco é reflexivo, quase sempre descritivo do passado, mas desenhado para as retrospetivas passadas serem feitas na pista de dança. Sem nunca perder o tom de frescura e o tom de festa.


Serpentine Prison, Matt Berninger


Matt Berninger tem das vozes mais inconfundíveis da Indústria Musical. O vocalista dos The National retrata, sempre de uma forma dolorosamente reconfortante, sentimentos, dores e desilusões amorosas e o público revê-se nas suas letras e profundeza da voz.

A melancolia prevalece como motivo predileto do cantor na produção criativa, estímulo para a composição de registos como os aclamados Sad Songs for Dirty Lovers (2003), High Violet (2010) e o mais devastador, Trouble Will Find Me (2013).

Em 2020, com Serpentine Prison, o cantor mergulha novamente numa obra de sentimentos. Nenhum artista masculino é capaz de retratar a vulnerabilidade masculina como Matt Berninger. As letras do cantor sabem sempre a honestidade, mas com um travo poético evidente.

O novo álbum procura a inovação, mas nunca sai realmente da esfera do lirismo nostálgico. Der por onde der, é um disco de conforto, efeito da poesia confessional que define o artista e de músicas que, de uma forma ou outra, nos dizem sempre algo.


After Hours, The Weeknd


Abel Tesfaye, ou The Weeknd, entrega-se à rebelião do vilão, com uma narrativa cinematográfica irresistível, fazendo o R&B colidir com o dream pop.

A personagem criada pelo cantor, é um obcecado com plásticas hedonista. After Hours aprofunda as variadas texturas do prazer, desespero e deceções amorosas. No quarto álbum o cantor retoma ao estilo dos trabalhos iniciais, mantendo o Alternativo R&B, mas melhora-o com experiências e misturas com outros géneros, Synth-Pop, transmitindo uma vibe quase que psicadélica.

Reratando cruamente a sua relação com a fama, abuso de drogas e ostentação, o artista recosta-se sempre no lado mais obscuro. Músicas como ‘Heartless’, ‘Hardest to Love’, ‘Blinding Lights’ destacam-se num disco que de simples nada tem. Com várias e diferentes camadas, a personagem criada por The Weeknd para claramente revelar os seus conflitos pessoais, está presa num ciclo vicioso do qual por vezes não sabe se quer, ou não, verdadeiramente sair.


YHLQMDLG, Bad Bunny


No segundo álbum, YHLQMDLG (acrónimo para “Yo Hago Lo Que Me Da La Gana”) Bad Bunny homenageia o passado e futuro do réggaetón, começando logo pela música que inicia o disco ‘Si Veo a Tu Mamá’.

O disco soa a uma versão mais livre do artista, considerando-o um verdadeiro álbum de festa. Característico do Bad Bunny. YHLQMDLG é, segundo a Billboard, o álbum cantado em espanhol que chegou mais alto nas tabelas de vendas americanas, além de ter escalado rapidamente os tops das plataformas de streaming.

Até tendo em conta que o estilo musical não se enquadra em todos os ouvidos, é inegável o reconhecimento que merece. Bad Bunny é o cantor mais ouvido no mundo, do ano 2020, muito se deve ao seu mais recente álbum.



The Ascension, Sufjan Stevens


The Ascension é um disco melancólico, que corre a um ritmo lento e propositadamente repetitivo. O cantor canta as letras quase como profetizando o seu próprio mantra, mas revela, simultaneamente, dúvidas e medos para os quais não encontra uma resolução exata ou fácil.

É uma convergência de diversas crises, em diversas esferas da vida: romance, política, existencial e espiritual. Num álbum que gravou praticamente sozinho, durante os últimos dois anos, Stevens oscila entre melodias magoadas, solitárias e, por vezes, revoltadas e uma incessante busca pelo seu significado benéfico, descobrir um propósito e encontrar esperança.

Este é, claramente, o álbum mais inclinado para o pop que Sufjan Stevens já fez. Com incontáveis camadas instrumentais a suportar as letras sentimentais e voz fragmentada, The Ascension afasta-se dos trabalhos passados do cantor e, claro está, como sempre, revela-se uma surpresa agradável.


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