O último adeus a Carlos do Carmo, a voz de Lisboa
- Fábio Lopes
- 7 de jan. de 2021
- 3 min de leitura

A voz inigualável de Carlos do Carmo extinguiu-se ao fim de 81 anos de vida e mais de 50 de palco. Após superar várias batalhas, não resistiu a mais uma e faleceu na cidade onde vivia e que tão bem cantou, a sua “Lisboa, Menina e Moça”.
Amanheceu triste o primeiro dia do ano de 2021, com a partida de Carlos do Carmo, a andorinha e a voz de Lisboa, o fadista do charme e do Bairro da Bica. O músico foi internado, “vítima de um pós-operatório a um aneurisma da aorta abdominal”, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, na última noite de 2020, morrendo na primeira manhã de 2021, segundo um comunicado emitido pela Universal, a sua editora.
Legado Divino
Carlos do Carmo é, indubitavelmente, um nome ímpar do fado e figura incontornável do meio artístico e da canção portuguesa. Dono de uma exemplar carreira de décadas, perdurará na memória de todos nós. Nascido em Lisboa, a 21 de Dezembro de 1939, o fado corria-lhe nas veias. Era filho da fadista Lucília do Carmo e do livreiro Alfredo de Almeida, proprietários da casa de fados "O Faia", onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística, em 1964.
Visto como um dos grandes artífices da modernização e da projeção internacional do fado, celebrizou clássicos e êxitos intemporais como "Bairro Alto", "Fado Penélope", "Os Putos", "Um Homem na Cidade", "Uma Flor de Verde Pinho", "Canoas do Tejo" e "Lisboa, Menina e Moça". Despediu-se dos palcos no passado dia 9 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, tendo recebido, na altura, a Medalha de Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, pelo seu "inestimável contributo" para a música portuguesa, que renovou e espraiou pelo mundo.
Com um extenso legado que atravessarão gerações, passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, do 'Canecão', no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.

Um embaixador do fado
O Mundo foi a casa de Carlos do Carmo, os cinco continentes o palco de uma das vozes que entusiasmou e apaixonou milhares de pessoas. A Enciclopédia da Música Portuguesa no Século XX destaca que, desde a década de 1970, o intérprete “acentuou as inovações musicais”, tornando-o “no representante máximo do chamado fado novo”, com trabalhos como o álbum “Um Homem na Cidade” (1977).
Depois de Amália, que se agigantou pelos 4 cantos do globo e tornou o fado planetário, Carlos do Carmo afigurou-se como a réplica masculina dessa presença inolvidável e insubstituível, dando ao fado novos mundos e batalhando pela sua difusão nos novos tempos, até à consagração do género como património pela UNESCO. Foi, igualmente, a ponte com as comunidades portuguesas porque, como gostava de destacar, temos cinco milhões de lusitanos fora de Portugal.
Distinguido com o Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, a glória e as distinções foram uma constante ao longo da sua vida: O Comendador da ordem do infante D. Henrique (1997) e Grande-Oficial da Ordem de Mérito (2016), Prémio Prestígio da Grande Noite do Fado (1991), Globo de Ouro de Excelência e Mérito (1998), Prémio José Afonso (2003), Prémio Goya (2008), entre outros.
Ele que fez Lisboa Menina e Moça para o mundo inteiro ouvir. Ele que é a Voz de Lisboa, que interpretou como nenhum outro a alma e o sentir da cidade. Foi, incomensuravelmente, homenageado em vida, mas as melhores condecorações foram as do público, com salas cheias, nos coliseus, casinos e pelo país e o mundo onde (en)cantou, com o seu charme e uma voz inesquecível.
"Ninguém se agarra à quimera Do que o destino encaminha Pois por morrer uma andorinha Não acaba a primavera"
Música: Por morrer uma andorinha
Artista: Carlos do Carmo
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