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Movimento “A Pão e Água”: gritos de desespero de um setor à beira do abismo

  • Foto do escritor: Jornal Espectro
    Jornal Espectro
  • 14 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura
Fotografia: Ana Francisca Gomes - Espectro

O movimento "A Pão e a Água", que reúne empresários da restauração, comércio e hotelaria, concentrou-se, na tarde de ontem, na Avenida dos Aliados, no Porto, para protestar contra a falta de apoios e as novas restrições no setor, com vista ao combate à pandemia. A ação ficou manchada por confrontos com a polícia.


Cerca de mil empresários do setor da restauração, bares e comércio demonstraram a sua indignação, face às medidas consideradas “restritivas”, para travar a pandemia de Covid-19, decretadas no âmbito do novo Estado de Emergência.


A avenida dos Aliados, bem no coração da cidade invicta, foi o palco para o protesto, que começou cerca das 16h e acabou por volta das 18h30.



A adoção de um conjunto de 16 medidas, entre as quais a atribuição de apoios imediatos, a fundo perdido, a isenção da Taxa Social Única (TSU), a redução no pagamento das rendas e do IVA, assim como a reposição dos horários de trabalho foram algumas das exigências a serem reivindicadas pelos empresários, com a atenuação das dificuldades sentidas por todos os trabalhadores do setor em vista.

Os muitos cartazes hasteados nas escadarias da Câmara Municipal do Porto deixaram evidente o clima de descontentamento, que inundou a cidade portuense. "Costa: faz outra proposta", "Estão a matar quem não tem covid" e "Nove meses para nascer, nove meses para morrer" são alguns dos exemplos que demonstram o cenário desolador, pelo qual muitos empresários estão a passar. A acompanhar estas mensagens escritas, era ainda possível ouvir-se os berros de desespero de muitos trabalhadores: “Queremos trabalhar, temos contas para pagar”.



Também os retalhistas e fornecedores destes espaços se juntaram à manifestação. Dentro das suas carrinhas e buzinando sem parar, estes trabalhadores, diretamente afetados pela diminuição de vendas nos restaurantes, percorreram as estradas que circundam a Praça da Liberdade e foram alvos de calorosos aplausos.


Antecipada como uma manifestação pacífica, a verdade é que os ânimos se exaltaram, tendo sido registados momentos de grande tensão. Além do arremesso de garrafas contra elementos das forças de segurança, os manifestantes colocaram caixões a arder (simbolizando a morte do setor), obrigando à intervenção da polícia e dos bombeiros, que foram impedidos de apagar os fogos pelos protestantes que criam uma barreira humana à volta dos caixões em chamas. Gerou-se um grande aparato e a PSP reagiu de forma mais musculada.



De acordo com a polícia no local, até cerca das 18:00 não tinha sido feitas detenções, mas foi necessário um reforço de policiamento, tendo sido chamadas mais quatro equipas de intervenção policial, cada uma com cerca de cinco elementos. Os ânimos acabaram por se acalmar, ainda antes da chegada do reforço policial.


Desacatos são “reflexo do desespero”


O porta-voz do movimento “A Pão e Água”, Luís Camões, afirmou, à agência Lusa, que os confrontos ocorridos espelham o desespero de um setor que se sente ignorado. “Isto [desacatos] é o exemplo claro do estado de desespero em que as pessoas se encontram neste momento”, que depois de “tantos meses em espírito de sacrifício”, não têm “pão para pôr na mesa”, enfatizou.


Quem partilha desta opinião é o dono e chef de cozinha do restaurante “O Portista”. Em declarações ao Jornal Espectro declara que a manifestação não fará recuar a decisão do governo e destaca o cumprimento das regras de segurança por parte dos restaurantes.



Visivelmente revoltado com o veredito do Executivo, traça o caminho que deve ser percorrido.



Perante o cenário agonizante que estão a atravessar, o dono do restaurante “O Portista” teme o dia de amanhã.



Rui Moreira juntou-se às vozes de indignação


O protesto contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal, Rui Moreira. O autarca falou com os manifestantes, garantindo estar “disponível” para considerar mais soluções do que as anunciadas pelo governo: “estivemos à espera do estado, há muitos com dificuldades, podem confiar em nós”. Rui Moreira disse que a sua presença na manifestação é um “sinal de respeito” por todos os que estão a passar dificuldades, garantindo que “dentro das possibilidades” da Câmara Municipal, está disposto a ajudar.


O presidente da Câmara do Porto afirmou ainda que a situação no setor da restauração e similares é “completamente dramática” e que são “necessários mais apoios”, considerando que antes de março ou abril “dificilmente as circunstâncias voltam ao normal”.


“Aquilo que se passa neste setor é uma situação completamente dramática, estamos a falar de dezenas de milhares de postos de trabalho perdidos ou em vias de ser perdidos, medidas de financiamento que foram dadas a pequenas empresas que não resolvem nada, apenas adiam o problema”, afirmou Rui Moreira.


Protestos alastraram-se a Valença e Cerveira


Cerca de 60 empresários da restauração dos concelhos de Valença e Vila Nova de Cerveira exigiram, igualmente na tarde de ontem, que os deixem trabalhar e que "as regras de funcionamento do setor não sejam alteradas a toda a hora".


"Não queremos subsídios, não queremos apoios. Queremos apenas e só que nos deixem trabalhar", afirmou à agência Lusa, João Cunha, um dos organizadores do protesto que decorreu na cidade de Valença, no distrito de Viana do Castelo.


Este foi o retrato da manifestação que invadiu a Avenida dos Aliados e que se tem alastrado um pouco por todo o país. Perante toda a incerteza que paira no ar, há um dado garantido: o setor promete não baixar os braços, apesar do futuro pouco risonho.


Texto por Fábio Lopes

Fotogaleria por Ana Francisca Gomes


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