Poder em 2020: a vez das mulheres
- Inês Delgado
- 16 de nov. de 2020
- 5 min de leitura

2020 consagra-se como o ano em que mais mulheres estão envolvidas no mundo da Política. Há quatro anos, Hillary Clinton fazia história por ser a primeira mulher a concorrer para Presidente dos EUA. Este ano, Kamala Harris entra para a História ao ser a primeira mulher negra e sul asiática a ocupar, na Casa Branca, um dos dois cargos mais elevados da política norte-americana.
Na semana passada, Hillary Clinton discursou sobre o papel das mulheres na política. A ex-secretária de Estado, evidenciou que este é um avanço "muito necessário" para alcançar a igualdade e mencionou a vitória de Kamala Harris.
"Precisamos de mulheres em posições de poder para falar por todas as mulheres, mas particularmente pelas mulheres marginalizadas, pelas mulheres pobres, pelas mulheres que de outra forma não têm uma plataforma tão forte e uma voz tão poderosa", disse a antiga primeira-dama dos EUA, no fórum organizado pela Women Political Leaders.
A necessidade de desmantelar visões patriarcais, em qualquer área do mundo profissional, continua a ser um tópico de extrema relevância. Numa altura em que é louvável o número crescente de mulheres no poder, deve ser destacado o papel destas na política e destruídas as conceções que defendem que uma mulher no poder se deve masculinizar para manter autoridade.
Hillary Clinton sublinhou ainda que progresso político das mulheres não deve focar-se apenas em estar no poder, mas sim em conseguir “que estejam decididas e comprometidas a aumentar o papel da mulher na família, na comunidade, no governo, nos negócios e na sociedade em geral”.
Com exemplos por toda a Europa de mulheres com elevado poder político, como Angela Merkel, chanceler alemã ou a primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, destaca-se este ano, por todo o mundo, a inovação, integração e diversidade no mundo da Política, como ainda não se tinha visto.
Estes são alguns exemplos de mudanças positivas na Política Mundial:
Kamala Harris

Kamala Harris, a primeira mulher Vice-Presidente eleita, assim como a primeira mulher negra e sul-asiático-americana a ser eleita para um dos dois mais altos cargos dos Estados Unidos. Filha de mãe indiana e pai jamaicano, Harris representa a oportunidade e, acima de tudo, a possibilidade.
A mulher sobre quem Donald Trump disse que “os americanos não gostam”, durante a campanha na Carolina do Norte, bem como “Ela nunca poderá ser a primeira mulher Presidente, isso seria um insulto para o nosso país”. Ainda assim, Kamala Harris é a nova Vice-Presidente dos EUA. Joe Biden indicou que Trump tinha “uma grande dificuldade em lidar com mulheres fortes”, os ataques de Trump ao eleitorado feminino não o fizeram beneficiar em 2020, como tinha acontecido em 2016.
A inclusão de Kamala Harris na candidatura de Joe Biden teve o grande efeito de mobilizar os eleitores negros numa época em que os protestos contra o racismo nos EUA atingiram proporções inesperadas, como no rescaldo da morte de George Floyd.
Em 2010, Kamala candidatou-se ao cargo de Procuradora-Geral da Califórnia, tendo sido a primeira mulher negra a ocupá-lo. Em 2014 foi reeleita para o cargo.
Tornou-se a primeira vice-presidente, em 244 anos da história dos Estados Unidos, o simbolismo das suas origens é muito importante pois desfocam os representantes dos supremacistas brancos e, segundo alguns comentadores, "a América volta a parecer mais o que era".
Alexandria Ocasio-Cortez

Aos 30 anos, Alexandria Ocasio-Cortez tornou-se uma das figuras mais proeminentes dos democratas e um alvo a abater pelos conservadores.
Nas eleições intercalares norte-americanas, realizadas no dia 6 de novembro de 2018, os bairros do Queens e do Bronx, na cidade de Nova Iorque, escolheram uma mulher latina de 28 anos, porto-riquenha e socialista para representá-los no Congresso.
Filha de mãe porto-riquenha e pai nova-iorquino, Ocasio-Cortez já tinha sido voluntária na campanha presidencial de Barack Obama, em 2008. Formou-se em Economia e Relações Internacionais, na Universidade de Boston e, desde 2019, representa o 14º distrito de Nova Iorque, no Congresso.
Baseando-se no exemplo de uma campanha de poucos recursos, que tem por base o diálogo e movimentação, apoiantes de Sanders criaram o Brand New Congress. AOC surgiu dentro desse movimento como um dos nomes para disputar um lugar na Câmara dos Representantes.
Assim, com o Brand New Congress, Ocasio-Cortez deixou de trabalhar num restaurante mexicano de Nova Iorque e foi fazer campanha.
Cortez acabou por sair vitoriosa das eleições intercalares com 78% dos votos.
Este ano, foi reeleita para a Câmara dos EUA, com mais de 70% dos votos apurados.
AOC faz parte da ala mais progressista do Partido Democrata e é a mulher mais jovem a conquistar um lugar na Casa.
Jacinda Ardern

Aos 37 anos, Jacinda Ardern foi eleita Primeira Ministra da Nova-Zelândia, tornando-se assim a mulher mais jovem do mundo a exercer o cargo.
Acedeu ao cargo em outubro de 2017, formando uma coligação com os verdes e um partido nacionalista, pondo fim a nove anos de governo conservador.
A “Jacindamania” foi evidente quando nas Eleições Legislativas de outubro deste ano, o Partido Trabalhista ganhou com o maior número de votos em pelo menos 50 anos. A forma como a Primeira Ministra tem lidado com a pandemia tem sido comentada em todo o mundo, a defesa e minorias, alterações na legislação para ajudar mães e pais, feminismo, entre outros quebra de tabus no Governo.
Em setembro de 2018 Ardern fez história quando levou a filha, Neve, de três meses, para a assembleia da ONU.
Focando-se em trazer a diversidade e o progresso, Jacinda Ardern anunciou um novo Governo, livre de tabus e preconceitos: “Este é um Governo baseado no mérito, mas também é incrivelmente diversificado e estou orgulhosa disso”.
Nanaia Mahuta

No seguimento do progresso de Jacinda Ardern, um dos seus símbolos é Nanaia Mahuta. Nomeada, pela Primeira Ministra neozelandesa para Ministra dos Negócios Estrangeiros. Nanaia Mahuta passa, assim, a ser a primeira mulher indígena, maiori, a exercer o cargo.
A tatuagem no queixo pode ter chocado alguns, mas é, não só, um símbolo típico das mulheres maori – moko kaue - geralmente tatuado em mulheres mais velhas, como um símbolo de autoridade e poder na comunidade, como um símbolo do progresso e inclusão que Jacinda Ardern quer ver no seu Governo.
A nomeação de Mahuta foi muito noticiada, por ser uma mulher maiori e fazer parte do Governo da Nova Zelândia, mas a nova Ministra dos Negócios Estrangeiros disse esperar que, um dia, o facto de fazer parte da comunidade maiori e estar no Governa não seja notícia.
Sarah McBride

Sarah McBride fez história este mês ao ser a primeira mulher transgénero a ser eleita para senadora.
A democrata, de 30 anos, assegurou um lugar no senado estadual do Delaware. McBride afirmou esperar que a vitória que obteve envie “uma mensagem aos jovens que estão a tentar perceber onde se encaixam neste mundo: a nossa democracia é suficientemente grande e as vossas vozes importam”.
Sarah é ativista na luta contra a discriminação de género e tinha trabalhado na Casa Branca durante a presidência de Obama. A democrata ganhou visibilidade, em 2016, quando se tornou a primeira mulher transgénero a discursar na Convenção do Partido Democrata.
Construiu uma carreira focada na igualdade LGBTQ, trabalhando em organizações de direitos humanos de Delaware, além de trabalhar em campanhas democratas no estado, como a do ex-governador Jack Markell e ex-procurador geral do Estado, Beau Biden.
Comentarios