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Skizo: dos oceanos às montras virtuais

  • Foto do escritor: Jornal Espectro
    Jornal Espectro
  • 19 de dez. de 2020
  • 5 min de leitura

O plástico que inunda os oceanos é a matéria-prima da Skizo. A start-up portuguesa tem deixado a sua marca rumo à sustentabilidade, com a sua gama de produtos têxtil, e, mais recentemente, com o fabrico de máscaras.


Criada pelas mãos de Andreia Coutinho e André Facote, no final de 2018, o nascimento da Skizo foi motivado pelo filho do casal. “Surgiu numa ida à praia com o meu filho, (...) e deparámo-nos com ele a tentar colocar plásticos à boca, que estavam ali à volta”, explicou André, em entrevista ao Jornal Espectro.


A partir deste momento, o casal decidiu criar uma solução inovadora para esse lixo. Com o propósito de irem além das limpezas de praias, centraram-se nos oceanos, onde o problema é “superior a tudo o que possamos imaginar”.


Imbuídos neste espírito, dirigiram-se àqueles que fazem do oceano a sua vida - os pescadores -, na tentativa de os “sensibilizar e capacitar (...) a trazerem o que apanhavam nas redes para terra”, com vista a ganhar uma nova vida.


Investigação e processo de fabrico


Seguiu-se todo um processo de investigação, de modo a materializar a ideia. Verificaram que “a tecnologia - transformar garrafas de plástico, neste caso o PET [Politereftalato de etileno] em fio - não era nova”. Os fundadores levaram a ideia à Web Summit 2018 e o feedback foi de tal maneira positivo, que pensaram para eles próprios que teriam de levar o projeto avante.



No que diz respeito ao processo de fabrico, André Facote diz-nos que o plástico recolhido pelos pescadores não corresponde à totalidade do produto final, contudo, toda essa matéria prima é usada mas insuficiente. Para colmatar essa necessidade, o fundador explica-nos que “usamos também uma percentagem de plástico que é recolhido nas praias, de parceiros, que nos entregam plástico também.” No final de contas, 25% do produto é composto pelo plástico oriundo dos oceanos e os restantes 75% provenientes das limpezas levadas a cabo nas praias e de parcerias.



No que concerne aos preços praticados pela Skizo, estes podem parecer elevados, numa primeira análise. No entanto, André não partilha desta opinião. “Eu não acho que os preços sejam altos, até porque se quiséssemos produzir em massa e quiséssemos vender sapatilhas a vinte ou trinta euros, nós conseguíamos, só que vocês daqui a uma semana iam-me estar a chatear, porque tinham ficado com o pé sem sola, por exemplo.”


Acrescenta ainda que este se trata de um produto premium que “usa a mesma tecnologia de empresas de alta costura e de luxo”. Neste sentido, quando comparada com os preços deste nicho de setor, com valores compreendidos entre os 600 e os 1000 euros, os cerca de 130 euros que os sapatos da Skizo custam são vantajosos.


Isto deve-se ao facto da empresa trabalhar com matérias-primas com preços inferiores comparados com aquelas que fazem da pele a sua imagem de marca. Apesar de pagarem aos pescadores pelo plástico dos oceanos, e terem de fazer todo o tratamento necessário deste elemento, os custos finais de produção serão sempre, inevitavelmente, mais reduzidos do que a concorrência.


Outro dos fatores diferenciadores da Skizo é a personalização do serviço que oferecem aos clientes. Isto é, ao invés de produzirem em massa, André explica-nos que o processo ocorre “par a par”, o que agrava o preço final. Ainda assim, o empresário considera este modelo de negócio benéfico, porque, apesar do valor duplicar, oferece ao consumidor algo novo: “nós damos opções ilimitadas ao cliente. O cliente constrói à sua medida e ao seu gosto e isso é uma inovação no mercado e é uma posição diferente de tudo o que está no mercado atualmente.”


O facto da Skizo não possuir stock e optar uma produção par a par, permite, também, à empresa uma constante evolução do produto. André refere que o têxtil usado já não é o mesmo de março de 2019.



André Facote destaca ainda o contributo da start-up em termos ambientais : “nós vendemos calçado, malas, máscaras, mas, no final de contas, o que nós vendemos realmente é impacto social e ambiental..”.


Receitas e projeções


Relativamente às vendas, os fundadores da Skizo confessam alguma surpresa com a superioridade do mercado nacional (60%), face ao estrangeiro - Europa, América do Norte e alguns países da América Latina - (40%). André e Andreia, numa fase inicial, optaram por estruturar o site em inglês, precisamente para colocar a marca à escala global.


Contudo, durante o confinamento, foi o mercado internacional o balão de oxigénio da empresa, uma vez que as quebras a esse nível foram quase nulas, enquanto que em território luso foram absolutas. Em Portugal, só voltaram a ter vendas em meados de Maio, só agora chegando aos níveis pré-pandemia.


Quanto às perspectivas futuras de atuação no mercado, André traça o caminho a seguir: “O que nós queremos agora é escalar, a nível internacional, e na Europa já estamos a crescer a um bom ritmo, mas nós queremos crescer no mercado norte-americano, porque acreditamos que poderá ser um mercado relevante para nós e queremos entrar, igualmente, no Japão”.


Com origem em Lisboa na Casa do Impacto, incubadora da Santa Casa da Misericórdia, “onde estão incubadas start-ups de impacto social e ambiental”, encontram-se também, mais recentemente, sediados mais a Norte na UPTEC. A oportunidade surgiu após terem ganho o concurso “ClimateLaunchPad”, o “maior concurso internacional de ideias clean tech. Para André, “é uma honra termos essa possibilidade”, uma vez que faz todo o sentido esta representação mais a Norte, devido ao facto de grande parte da produção se desenrolar nesta região do país.


Transição para máscaras


Umas das formas que os fundadores da Skizo encontraram para fazer face às quebras de faturação provocadas pela pandemia foi a implementação de uma linha de máscaras. Numa primeira fase, foram fabricadas proteções mais comunitárias, de nível 3, com o uso de algodão orgânico.


Com o passar do tempo, começaram a desenvolver as de nível 2, e somente passados cinco meses é que as conseguiram certificar. Nas palavras de André, a transição deu-se naturalmente, explicada pela adaptabilidade do material: “Para nós, não vou dizer que é fácil porque nada é fácil, porém facilita-nos bastante que a nossa tecnologia seja o têxtil, porque eu posso estufar um carro, fazer uns cortinados, posso fazer sapatilhas, posso fazer máscaras... Eu posso fazer tudo o que o têxtil me permite fazer. Só preciso de o fazer adequado para a necessidade”.


A Skizo é uma das líderes de mercado no que diz respeito ao tratamento de materiais reclicados, sempre com a ideia do upcycling em mente. Isto é, usar, neste caso, plástico oriundo dos oceanos e das praias para criar produtos qualitativamente superiores e sustentáveis. Este o caminho a seguir, contudo, André, diz que este processo não é da exclusiva responsabilidade das empresas.


Artigo por Alexandre Matos e Fábio Lopes

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