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2020: O ano das modalidades


Imagem: Marta Antunes Rodrigues

O desporto rei em Portugal é, e sempre será, o futebol. Contudo, em 2020 a história foi diferente. As inúmeras conquistas forçaram o país a centrar as atenções, pelo menos a espaços, no ciclismo e nos desportos motorizados. Quantos de nós é que não vibramos com as subidas às montanhas transalpinas de João Almeida, ou quantos de nós não sentimos aquela última curva do Miguel Oliveira como se de um Porto-Benfica se tratasse?


Com a pandemia a forçar as pessoas a abandonar cada vez mais os desportos coletivos, as modalidades individuais podem ganhar um destaque verdadeiramente significativo no panorama desportivo nacional. E, como já vimos vezes sem conta, é precisamente depois de conquistas épicas em desportos não tão conhecidos que estes ganham expressão popular.


Da mesma forma que vimos tantos portugueses a tentar replicar a velocidade de Francis Obikwelu depois da sua medalha de prata em Atenas, será que veremos muitos jovens a pegar nas suas bicicletas e pedalar desenfreadamente pelas montanhas de Portugal acima.



Miguel Oliveira: O percurso do “Einstein” português até aos holofotes do Moto GP



Fotografia: DR / RBCP

Após um ano de estreia (2019) na principal categoria de motociclismo, Miguel Oliveira arrancou a todo o gás para uma temporada fulminante e de afirmação, junto dos predestinados em duas rodas. Numa breve viagem à sua carreira, conhecemos a história de uma estrela em ascensão.


Os primeiros voos do falcão


Com talento nato para contornar as curvas e contracurvas de uma pista, sempre se habituou aos triunfos. O ano de 2011 trouxe consigo a estreia do piloto português no Mundial de Moto3, com a equipa Andalusia-Cajasol. Nesta categoria amealhou os primeiros dois pódios, uma caminhada que o levaria também ao segundo posto da geral em 2015, com a KTM.


A ascensão à categoria intermédia, a Moto2, deu-se no ano seguinte, com a Kalex, e em 2017 regressou à KTM, com quem alcançou mais um vice-Campeonato. Os bons resultados, conseguidos ao leme da marca austríaca, impulsionaram o piloto luso para a subida à categoria rainha em 2019, o MotoGP. Um ano de adaptação, com claros sinais de crescimento e maturação, perspetivaram-no como um diamante por lapidar.



Fotografia: Auto Look

Profeta evangelizou Algarve no regresso a casa


A culminar uma temporada repleta de esplendor de Miguel Oliveira, Portugal recebeu a última etapa do mundial de Moto GP, que ocorreu entre 20 e 22 de novembro de 2020. O Autódromo Internacional do Algarve foi o palco de toda a ação, no qual os holofotes estiveram todos postos na possibilidade do piloto português conquistar a segunda vitória da temporada. Após o triunfo no GP da Estíria, na Áustria, Portimão tinha, assim, a possibilidade de terminar com chave de ouro um ano inolvidável para o desportista de Almada.


E foi exatamente esse cenário que se verificou. As luzes vermelhas do semáforo apagaram-se e o destino cumpriu-se. O falcão abriu as asas e voou sobre duas rodas, rumo à linha da meta, tocando os céus do Algarve. Assim, com uma prestação imperturbável sem ninguém pela frente, cilindrou a concorrência, fazendo-a respirar o fumo emanado do seu escape furioso, conquistando o segundo triunfo da época.


Uma demonstração de classe e imponência a deixar água na boca aos seus fãs e a inundar de orgulho uma nação. Com a próxima época em perspetiva, promete continuar a escrever o seu nome nas páginas douradas da modalidade e a fazer ecoar a “Portuguesa” pelos quatro cantos do mundo.




Sepúlveda escreveu, um dia, sobre um gato que ensinou uma gaivota a voar. Agora, nós escrevemos sobre um falcão que ensinou um povo a sonhar. Que permaneças esse voador imperial, Miguel, obrigado!



Jorge Fonseca, o Exterminador Implacável



Fotografia: Issei Kato (Reuters)


Jorge Fonseca tem-se afirmado como um dos nomes mais temidos no universo do Judo. O atleta do Sporting Clube de Portugal fechou com chave de ouro 2020, ao conquistar a medalha de bronze no Campeonato da Europa da modalidade, realizado em terras checas.

O campeão mundial, na categoria de -100 kg, conquistou a primeira medalha em europeus, dando, desta forma, continuidade à sua caminhada triunfal. Contudo, importa conhecer o percurso do judoca luso até chegar ao estrelato da modalidade.


Força da Natureza aliada ao talento nato


Uma verdadeira prova de superação. É assim que deve ser descrita a vida de Jorge Fonseca, que se tem revelado um verdadeiro gladiador dentro e fora do “tatami”.

Desde cedo exibiu todo o seu potencial. Em 2013, tornou-se o primeiro atleta masculino português a alcançar o título de Campeão da Europa deste escalão (sub-23).

A glória caminhou sempre de mãos dadas com o desportista português e os triunfos foram-se sucedendo. Porém, as facilidades foram poucas. Desde a precoce paternidade (com somente 17 anos) até um temeroso cancro na perna aos 22 anos, nunca atirou a toalha ao chão, rumo ao sonho de alcançar voos mais altos no mundo do Judo. Nunca se deu por derrotado e transcendeu-se sempre.





À conquista de Praga


Após um 2020 bastante atribulado, no qual a competição foi suspensa durante vários meses devido à covid-19, o atleta fechou o ano em beleza ao arrecadar a medalha de bronze nos Europeus de Praga. Ao vencer o georgiano Varlam Liparteliani, por ippon, já no prolongamento do combate, Jorge Fonseca conquistou assim a sua primeira medalha em absolutos na competição continental, culminando 2 anos de sonho e de pura superioridade do judoca.


Como já ficou provado ao longo da sua carreira, Jorge Fonseca não conhece limites. Com um novo ano em perspetiva, é certo que almejará a tão desejada conquista olímpica, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, uma casa onde já foi bastante feliz, sempre com o desejo de levar a bandeira nacional até aos 4 cantos do globo.



Félix da Costa, a “formiga” que se agigantou



Fotografia: FIA Formula E (Getty Images)

O piloto português António Félix da Costa sagrou-se, no dia 9 de Agosto de 2020, campeão mundial de Fórmula E. Este êxito enaltece um ano memorável para o desporto motorizado português, a par das conquistas em duas rodas de Miguel Oliveira.


O piloto da DS Techeetah garantiu o primeiro título mundial da história do automobilismo de pista português e inscreveu assim o seu nome na história da modalidade. Foi segundo classificado na corrida disputada no Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, sucedendo ao companheiro de equipa Jean-Éric Vergne no lote de vencedores do mundial de monolugares elétricos.


As sete vidas do “formiga”


Dono de uma vasta carreira, que conheceu muitos altos e baixos, Félix da Costa revelou sempre uma perseverança e resiliência intocáveis. Depois de superada a desilusão de 2013, na qual esteve prestes a garantir um lugar na categoria rainha do desporto automóvel, mas acabou por ser preterido pelo russo Daniil Kvyat, na corrida por um lugar na Red Bull, o atleta luso nunca se deu por vencido e vê agora cumprido o desígnio a quem muitos lhe apontaram e a quem só faltou conseguir um lugar na Fórmula 1.





Com um percurso de mais de duas décadas ligado ao automobilismo – começou a competir em campeonatos de kartings com nove anos -, Félix da Costa, viu a sua aposta na mais importante prova automobilística da FIA de eléctricos recompensada com um título conquistado com uma vantagem dilatada sobre os mais diretos perseguidores.

Um passo enorme para a notoriedade lusitana no panorama do universo automobilístico internacional a coroar um ano recheado de triunfos.


Um passo enorme para a notoriedade lusitana no panorama do universo automobilístico internacional a coroar um ano recheado de triunfos.



Fernando Pimenta, o limiano de ouro



Fotografia: o canoísta português, Fernando Pimenta

Fernando Pimenta conquistou, no dia 27 de setembro de 2020, a 100.ª medalha internacional, ao garantir o ouro na final de K1 5.000 metros na Taça do Mundo de velocidade de Szeged, que se disputou na Hungria. Um dado que atesta a irrepreensível carreira do melhor canoísta português de todos os tempos.


Na distância em que foi campeão mundial em 2017 e 2018, e terceiro em 2019, e numa cidade onde já foi bastante feliz, Pimenta impôs-se sem grandes dificuldades aos rivais. Os húngaros Balint Noe, segundo, e Kornel Beke, terceiro, mostraram-se, durante toda a prova, incapazes de acompanhar o ritmo demolidor do atleta luso, que registou um tempo de 20.03,09 minutos.


Abençoadas águas húngaras


Fernando Pimenta é, indubitavelmente, a cara da canoagem portuguesa. Os cinco quilómetros de pura planagem sobre as doces águas da Hungria, com uma pagaia nas mãos e uma canoa flutuante e deslizante, feitos em pouco mais de 20 minutos, ficarão, para sempre, imortalizados na história da modalidade. O seu legado é assombroso e as 100 medalhas internacionais arrecadadas ao longo da sua carreira, são prova disso mesmo. Um feito só ao nível de predestinados e um contributo incomensurável para o desenvolvimento da modalidade náutica, no que diz respeito ao panorama nacional.


Um palmarés de sonho


Medalha de prata nos Jogos de Londres2012 em K2 1.000 metros, ao lado de Emanuel Silva, Pimenta soma igualmente nove medalhas em Mundiais, com mais uma no campeonato do mundo de maratonas, 16 em Europeus, duas em Universíadas e quatro em Jogos Europeus, numa 'amostra' do centenário que completou em 2020.





Destinado aos voos mais altos da canoagem, o ouro faz já parte do ADN de Fernando Pimenta. Após atingida a proeza centenária, o desportista tem já a mira apontada a 2021, sempre com a mesma mística e espírito vencedor.


Artigo por Alexandre Matos e Fábio Lopes






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