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Crónica: A amargura de um Natal à distância

  • Foto do escritor: Fábio Lopes
    Fábio Lopes
  • 19 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura

Fotografia: Nélson Garrido

Esta mensagem tem um recetor específico e que tem andado nas bocas do mundo desde meados de 2020: este aterrorizador e impiedoso vírus, que se dá pelo nome de SARS-CoV-2, ou Covid-19, para os amig.. inimigos … ou seja, para toda a população mundial.


Ele que aparece de rompante, que não escolhe geografias, latitudes ou longitudes. Que se impõe e se faz sentir independentemente da orientação sexual, religião, estatuto social ou económico e que cavalga galopantemente pelos 4 cantos do globo, provocando um verdadeiro terramoto na vida social, como até então a conhecíamos.


Para uns encarado como a revolta do planeta contra as artimanhas e malefícios da conduta humana, é, na ótica de outros, um precursor de distopias na iminência de se estabelecerem e uma jogada de propaganda dos regimes mundiais mais obscuros. Com a sua estadia adivinham-se hecatombes económicas, revoluções anárquicas, sangue, suor e lágrimas. Porém, neste momento, a única revolta que sinto, trazida pelo vírus, é a impossibilidade de ter passado o Natal, junto dos meus.


Este vírus decidiu bater à porta no momento mais inoportuno. Quando não tinha o direito de o fazer. Jamais olvidarei o silêncio ensurdecedor quando contei a malfadada notícia aos meus pais, a de que não poderia ir a casa. Não tanto por mim, porque acabei por ter um excelente Natal, junto de pessoas especiais, o sentimento de impotência e angústia que me habitam, manifesta-se pelos meus pais. Por imaginar um lugar vazio à mesa… Uma sensação que queima, que me arde, que me consome…


Tudo por culpa deste atroz vírus. Ele que se deleita, com um riso cínico, pleno de ironia e satisfação, perante o nosso infortúnio. Que não descansa enquanto não tiver infligido alguma dor a todos nós.


Este não é o Natal que queríamos, nem certamente o Natal que merecíamos, após tantos meses de confinamento e de distância social. É o Natal possível, com contornos bem distintos. É um Natal distante, contaminado pelas exigências intransigentes da pandemia. É um Natal privado de gestos e afetos físicos e marcado pelo refrear do calor humano, tão expressivo nestas quadras e sazões.


É certo que queria muito ver a minha família toda, seja às prestações ou de uma vez só – apesar de sermos incontáveis. As saudades são imensas e os vapores do tempo só as intensificam. Sinto falta daqueles abraços que apertam os ossos com tanta força que nos cortam a respiração. Da felicidade pura e cristalina de revermos aqueles com não estávamos “há séculos”, como sempre dizemos. Porém, este ano toda esta confraternização deu-se via zoom e pela câmara de um telemóvel.


Separados fisicamente, mantivemos o coração aceso, ainda que distanciados por um ecrã. Momentos antes do jantar de dia 24, lá estavam eles todos online. Entre a cidade Invicta e Oliveira de Azeméis, duas janelas se abriram no telemóvel. Do lado de lá, toda a saudade no sorriso dos meus pais, da minha irmã, da mesa repleta de doces e do sempre tradicional bacalhau.


As mãos no gélido vidro do ecrã, ainda perplexas com a distância, exacerbavam estes sentimentos, e o nó entalado bem a meio da garganta de não podermos estar todos reunidos, devido a um protagonista indesejado: este vil e imprevisível inimigo, que tem tomado de assalto as nossas vidas.


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