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Crónica: A subtil arte da desinformação

  • Foto do escritor: Ana Francisca Gomes
    Ana Francisca Gomes
  • 19 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de jan. de 2021


Fotografia: Francisco Romão Pereira

Acabado de chegar a solo terráqueo, o estranho monstro que é a Internet vinha de mão dadas com algumas amiguinhas, também elas muito estranhas e que pareciam vir de um outro planeta: as influencers.


Estas autointituladas “criadoras de conteúdo” acordavam já maquilhadas, escreviam de uma forma #distinta e gravavam cada milésimo de segundo dos seus dias muito atarefados. Cada peça de roupa era-lhes presenteado por alguma marca e, por vezes, faziam giveaways de algumas dessas coisas que lhes tinham sido oferecidas. As suas dietas eram à base de pratos ridiculamente fotografáveis e barrinhas da prozis que com o código CAROLINA13 ficavam 10% mais baratas.


A maioria delas não tinha frequentado o ensino superior, mas todas eram doutoradas em marketing digital e em programas de edição da adobe. Usavam exatamente as mesmas poses para fotos e todas tinham um cão de raça pug – salvo as raras exceções que se ficavam pelos buldogues franceses. Mesmo sem se conhecendo, eram amicíssimas, situação inevitável tendo em conta a quantidade de coisas que tinham que as faziam ser exatamente iguais umas às outras.


Não fossem já elas criaturas excêntricas o suficiente, ultimamente têm-nos deleitado com alguns episódios de outro mundo.


Há uns dias, a influencer Mafalda Sampaio partilhava na sua página de instagram algumas respostas a perguntas que os seus seguidores lhe tinham feito. Assim que questionada sobre a sua posição relativamente ao feminismo, Mafalda afirmava convictamente não se considerar feminista, mas que “os homens também deviam todos ir trabalhar 10 horas por dia, chegar a casa e ainda ter de dar banho aos putos e fazer o jantar”. Perante esta situação, que só poderia ser um inequívoco, os seguidores da Mafalda explicavam-lhe que se ela acreditava na igualdade de género isso fazia dela uma feminista ao que a blogger já se redimia dizendo “então sou um bocadinho feminista, não completamente porque não sou tipo de pessoa ativista”. Parecia ser já um caso perdido, mas os internautas não deram a luta por vencida e tentavam esclarecer-lhe que uma coisa não implica a outra levando-a a fazer então um upgrade do seu estado-social para “então sou feminista, SIM”.


Estas três atualizações de “não sou” para “sou um bocadinho” até chegar ao “sou” levaram cerca de duas horas. Como seria de esperar da internet, o ridículo da situação levou a que o seu instagram fosse rapidamente regado por uma chuva de ódio. Muito ofendida com as mensagens que estava a receber, Mafalda defendia-se relembrando de que é um ser humano e que também tem o direito de falhar. Alguém esqueceu-se foi de relembrar a Mafalda de que é mãe de uma bebé, que é a fundadora de uma revista de empoderamento feminino, que tem cerca de 450 mil seguidores e que isso traz-lhe responsabilidades públicas acrescidas.


Que coisa bizarra esta de trabalhar no sítio onde se encontra mais informação e mesmo assim ter tamanha falha cognitiva. Às vezes faz falta ler mais livros, que isto de influenciar só sobre maquilhagens e barrinhas da prozis não chega para tudo. Ó internet, não as podes levar de volta?

Yorumlar


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