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Opinião: O Fascismo não se debate, combate-se

  • Foto do escritor: Alexandre Matos
    Alexandre Matos
  • 20 de jan. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 21 de jan. de 2021


Quando pensamos em fascismo, os anos 30 são, porventura, o destino mais comum. Aos nossos olhos parece-nos uma realidade distante, e muitas vezes até ridicularizamos os alemães e italianos por terem elegido líderes como Hitler e Mussolini. Custa-nos perceber que não somos diferentes dessas pessoas, e que não somos imunes a cometer os mesmos erros. O ser humano tem um vício terrível de se achar superior aos seus antepassados.


E a verdade é que o fascismo de hoje não é o mesmo que marcou o século passado. Teve que se adaptar, que se esconder e parecer mais democrata à superfície. Mas não nos deixemos enganar: é fascismo na mesma. Não é por Trump ou Ventura dizerem que são as pessoas mais democráticas do mundo que devemos acreditar. Aliás, devemos imediatamente suspeitar da pessoa que afirme: “sou a pessoa mais (seja lá o que for) do mundo”. Quando o presidente dos EUA afirma que é a pessoa que mais respeita as mulheres do mundo, ou a que mais respeita a imprensa, ou a que mais gosta de pessoas negras, se calhar está a mentir.


Porque isto toca num ponto importante que referi há bocado dos fascistas de hoje – sabem esconder-se. A mentira tornou-se na arma mais potente para tentarem mostrar ao mundo que não são o que são – fascistas. E aqui, também começo a justificar o título deste artigo, porque se o que estas pessoas mais gostam de fazer é mentir, é impossível debater-se com elas. E vemos isso em todos estes neofascistas. Em todos os “debates” que temos visto para as Presidenciais em Portugal, a palavra que o líder do partido da extrema-direita mais diz é “mentira”, ao responder às acusações que os outros candidatos lhe fazem.


A verdade deixa de ser importante. Os factos passam a ser secundários. Claro que Ventura sabe que o que lhe estão a dizer é verdade, mas nem toda a gente saberá. E também sabe muito bem que se tiver constantemente a interromper o adversário quando estes lhe atiram com os factos à cara, o destaque vai sempre para quem faz mais barulho. E chegam a ser assustadoras as parecenças do estilo do candidato português ao de Trump. Os comentários “engraçados” a cada fala do oponente, não se descurando nunca da atitude do “eu é que sei, eu é que sou fixe”. Os próprios movimentos de mãos de Ventura estão cada vez mais parecidos com os do norte-americano.


E existem muitas pessoas, na suposta direita mais moderada, que desvalorizam o perigo destes indivíduos. “As instituições são fortes, não vamos perder a democracia”. E ainda acham que conseguem moderar estas pessoas, trazê-las mais para o centro. O que não percebem é precisamente aquilo que eu tenho estado a tentar dizer aqui: a verdade não importa para estas pessoas. Aquilo que dizem num determinado dia não importa. E certamente não importa se no dia a seguir disserem o contrário, porque aí é basta-lhes repetir: “é mentira”.


Não é por Ventura admitir moderar-se numa determinada posição mais radical que, se alguma vez chegar ao poder, signifique que não vai voltar atrás. Porque a verdade não interessa. E não sei quantas vezes tenho que repetir essa frase para que toda a gente a entenda. A grande razão por trás das propostas do CHEGA são pôr esses temas, que achávamos estar já no passado, de volta na discussão mediática e pública. Se voltarmos agora a debater a prisão perpétua, ou a segregação, se calhar não vamos estranhar tanto quando forem apresentadas medidas ligeiramente mais moderadas, mas incondicionalmente um espelho de retrocesso.


A democracia não é infalível. E o processo de acabar com ela pode já não ser tão rápido como porventura foi, mas ainda é possível. Vemos isso muito bem no caso da Hungria. Viktor Orbán foi sempre eleito como Primeiro-Ministro. Não precisou de nenhum golpe militar para chegar ao poder. Mas este soube deteriorar a democracia por dentro. Passou uma lei em 2010 que limitava a liberdade de imprensa, “reformou” grande parte dos juízes do país para nomear aqueles com quem se identificava, mudou a constituição sempre que precisava, quer fosse para moldar o sistema eleitoral para perpetuar a seu poder, quer fosse para introduzir leis que tirassem direitos às mulheres e à comunidade LGBTQ.


Tudo isto enquanto se mantinha na União Europeia e passava por democrata. É este o fascismo dos dias de hoje. E perguntem aos opositores políticos de Orbán porque é que eles simplesmente não debatem com ele para o retirar do poder. Talvez tenham que visitar algumas prisões húngaras para os encontrar...


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